Novas Escolhas

Juliana Oizerovici
2 min readMar 18, 2024

Decidimos as coisas mais sérias da vida ainda muito jovens, naquela fase que o escritor Milan Kundera chamou a “idade da ignorância”, que é quando escolhemos profissão, nos casamos e temos filhos. É uma grande sorte quando essas escolhas se confirmam como acertadas e até duradouras até o fim dos dias, sem o valoroso apoio da hipocrisia.

Nos idos tempos em que entrávamos na meia-idade aos 30 anos e virávamos idosos aos 50, faltava energia para revoluções pessoais. Dava preguiça de começar tudo de novo, já que não demoraria para batermos as botas. Seguia-se adiante com as escolhas feitas na juventude, era sinal de juízo. Ninguém nos chamava de covardes e sim de sensatos. E a gente retribuía a confiança garantindo que éramos felizes, mesmo quando não éramos.

Agora a gente chega aos 45 com o corpo e mente tinindo, e com a promessa de uma vida inteira pela frente. Mesmo tendo sido felizes de um jeito, podemos arriscar ser felizes de outro: a preguiça deixou de ser algo aceitável. Hoje a única justificativa para não mudar é, contrariando Milan Kundera, ter sido um gênio na juventude e acertado o alvo de primeira, a ponto de ignorar os atrativos desafios que a maturidade nos traz, período em que estamos mais íntimos de nós mesmos.

A constância é confortável, mas também um inimigo silencioso, sequestra o brilho no olhar. É o preço a se pagar por nos recusarmos a fazer ajustes no decorrer do caminho pelo medo que sentimos dos desejos inconvenientes, por nos acomodarmos ao “mais ou menos”.

Não significa que os caçadores de emoções, que se mantiveram em movimento, tenham alcançado o paraíso. Podem ter se dado mal, podem ter se arrependido, mas não se intimidaram dos riscos, e isso lhes dá uma medalhinha invisível presa à camisa, um charme qualquer que não se explica.

As pessoas mais interessantes são aquelas que têm histórias, guinadas e estão preparadas para um final em aberto. Não apostar no felizes para sempre dos contos de fadas da Disney, que terminava que o melhor iria começar.

Excitações, demissões, desespero, conquistas, delícias, brigas, paixões, problemas superados, novas encrencas, dívidas, estradas, autoconhecimento, terapia, frustrações, amores minúsculos, amores maiúsculos, solidão, rugas, viagens, o universo em expansão e o ponteiro girando sem parar “”tic-tac. É assim mesmo, vertiginoso.

Quando a gente se permite alçar vôos – eles continuam nos chamando para o embarque – nos livramos das fantasias infantis e passamos a ser quem realmente somos: múltiplos e falíveis. O final? Seja qual for, será preferível àquela trilha fechada dentro da floresta, onde o cavalo branco se perdia com dois conformados na garupa.

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