Sobre ser um feijão

Juliana Oizerovici
2 min readMar 18, 2024

Eu tenho uma teoria meio boba sobre a vida (mas que até faz sentido). Eu penso que no mundo existem pessoas arroz e pessoas feijão…. E as pessoas feijão constituem a grande minoria. A proporção é a seguinte: para cada panela de arroz existe UM grão de feijão estranhamente posicionado no meio, comprometendo o conjunto. Consegue visualizar?

Isso não é uma dinâmica de vítima e algoz, ou sobre insinuar que existem pessoas boas e ruins. Minha teoria boba sobre o mundo não é maniqueísta. Mas é fato: pessoas-arroz não dão trabalho a ninguém. Elas sempre estão no lugar que deveriam, fazendo o que é esperado delas. Tiram boas notas, fazem amigos, não tem fases esquisitas, nunca precisam de medicamento de uso contínuo, namoram de forma saudável, se casam e constituem família. Ah, e tem carreiras ótimas (não brilhantes, ótimas). Por que a pessoa-arroz não é brilhante, é ótima.

Pessoas-feijão, porém, na vida são como um avestruz de patinete. Parece que realmente nasceram para o desastre, sempre no meio daquela panela de arroz brilhante, destoando e constrangendo. Vivemos embriagados no horror existencial sem fazer NADA do que é esperado de nós, sempre nos perguntando o que faz a vida de um arroz ser tão descomplicada. Seria inveja? Não, só perplexidade.

Temos uma vontade louca de mimetizar o arroz, nos pintando de branco e sumindo no meio da panela? Com certeza! Para muitos, esse é um dos maiores desejos.

Mas infelizmente não é algo possível. Não adianta disfarçar, nem tentar um grande mergulho no arroz…. Inclusive, é tóxico passar muito tempo mergulhado no arroz.

No fim, a resposta é resignificação. Aceitamos nosso enigmático lugar no meio da panela, pois nunca sairemos dali. Resta ser um feijão glorioso, lustroso e robusto estranhamente fora do lugar. E quem sabe poderemos encontrar outros feijões. É raro, mas pode acontecer.

Palavra de um feijão experiente.

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